Muitas vezes nos nossos workshops na ENFS questionamos os presentes sobre o seu entendimento na altura do que é o Feng Shui. Nas respostas, a palavra que mais ouvimos é “harmonia”, dita de várias formas e com vários sinónimos, como equilíbrio, ordem, paz.
Mas, afinal o que é harmonia e porque tantos de nós, mesmo sem ter muito conhecimento sobre a quinta arte da metafísica chinesa atribuímos a esta prática a capacidade de criar harmonia ou trazer harmonia às nossas vidas?
Numa perspetiva mais filosófica o conceito de harmonia indica uma concordância que é pré-determinada, ou seja, que foi criada por Deus, ou força original ou, como nós lhe chamamos, o grande WuJi, desde o princípio dos tempos. Um fenómeno em harmonia é algo que está disposto de forma equilibrada e justa entre as partes de um todo. E este conceito explica, realmente, tudo. Senão vejamos:
A arte do Feng Shui é a arte mais material das cinco artes e aquela que propõe ao ser humano ferramentas para equilibrar e alinhar as duas principais forças a que todos nós estamos sujeitos desde o dia em que nascemos: a força do céu e a força da terra.
Há muito pouco tempo tive oportunidade, ainda que por breve período, de estudar diretamente com um mestre de origem chinesa uma outra arte que não o Feng Shui e foi particularmente interessante receber conhecimento de alguém que foi gerado no “liquido amniótico” de uma cultura que é gerada nesta vibração da metafísica chinesa e tudo o que a envolve. Nós, ocidentais, recebemos esta informação por estímulo e interesse, há quem diga também (eu assim acredito), por envolvência cármica, mas recebemos com os filtros naturais de uma cultura diferente. Ainda assim, na minha visão, como seres humanos que somos, todos recebemos o primeiro estímulo de todos: procurar o bem-estar e um estado de harmonia e equilíbrio que nos faça sentir completos e, como partes de um todo!
E ouvi deste mestre uma simples frase que me convida a esta reflexão: “todos somos antenas”. Sim, somos partes materializadas de um todo energético que sofreu vários processos de transformação e, por tal, somos ressonância e vibração. E ligamos as nossas antenas a duas forças essenciais neste mundo que partilhamos: a influência astral (força do céu) e ao magnetismo da terra. Precisamente porque somos, todos nós, seres energéticos a viver uma experiência de “chão” de peso e matéria, uma experiência a três dimensões, a nossa matriz energética que somos e que fomos ressoa de forma distinta com essas duas forças e delas recebemos tudo o que necessitamos para viver e evoluir enquanto espécie, com todos os desafios e alegrias que tal experiência acarreta.
O que a arte do Feng Shui propõe, na minha perspetiva, através do conhecimento integrado da metafisica chinesa e do sistema que lhe dá sustentação, o sistema dos cinco elementos ou cinco transformações é, pelo estudo e pela prática, convidar o praticante que a ela se dedica a aumentar a sua qualidade de percepção em relação ao ambiente onde vive que é mesmo que dizer, aprende a melhor conhecer e navegar por entre estas duas forças, céu e terra, a que todos estamos sujeitos.
Ouço muitas vezes falar sobre vários tipos de Feng Shui, o clássico que vem da China e que, supostamente, não pode ser praticado pelo ocidental, e o contemporâneo que será considerado uma adaptação para a realidade cultural ocidental de conhecimentos e perspetivas que o homem ocidental simplesmente não tem. Para mim, toda esta distinção está profundamente incorreta e reporta-me a outros estados de alma humanos que criam distinções entre os seres por raça, género, educação, ou seja, torna-nos, ainda, mais fragmentados e leva-nos para longe da tal ligação com a definição de harmonia que defende que todos, em alinhamento, somos tudo e parte integrante de um TODO.
Se assim é, e acredito que seja, então, dizer que o Feng Shui clássico é desajustado de ser praticado no ocidente porque os ensinamentos que propõe fazem parte de uma realidade cultural que não é a nossa é dar mais importância aos conceitos do que à realidade energética que queremos melhor conhecer e vivenciar. O Sol que nos aquece a cara aqui em Portugal é o mesmo que nasce na China. A lua é a mesma. Na China, como aqui, temos fenómenos energéticos que são do movimento Água, Árvore, Fogo, Terra, Metal e, novamente Água, desenhando um ciclo eterno que se perpetua e que cria as “10.000 coisas” de que fala o Tao Te Ching. Saber isto, refletir e praticar sobre isto leva-nos por caminhos que nos ajudam a perceber que todos somos um barco a navegar por mares desconhecidos. Todos estamos sujeitos a ventos, mais suaves ou tempestades. Nada podemos fazer no nosso percurso senão aprender como controlar essas forças do “vento e da água” aprendendo a voltar-me para o vento favorável e protegendo-me da tempestade. E é aqui que entra a arte do Feng Shui como a arte que cria harmonia, cria ordem, cria alinhamento!
Daqui concluo que qualquer prática e estudo sobre a arte do Feng Shui deve partir deste pressuposto essencial de que não se trata de conceitos, trata-se de apurar os sentidos, por uso da mente e do raciocínio, claro, mas ir mais além: aprender a usar o instinto e a intuição.
Por tal, a Escola Nacional de Feng Shui propõe uma formação que lança o “chão” desta arte através da reflexão sobre a metafísica chinesa que propõe uma lente mais apurada e esclarecida sobre o fenómeno que somos e dá-nos ferramentas para construir uma prática que passa por várias fases: primeiro por um desenvolvimento mais mental e intuitivo que coloca o praticante como principio e fim da harmonização pretendida e, depois, leva-nos mais além convidando a conhecer uma prática desenvolvida e alinhada pelo conhecimento de muitos seres no passado que nos deixaram um conhecimento de “estrelas voadoras” ou Xuan Kong Fei Sin, ou “ o misterioso vazio” com o Xuan Kong Da Gua e que nos convida a pôr em funcionamento nas nossas vidas a “sorte pura” que não é mais do que conhecer e alinhar-nos com a perspetiva da Física Quântica que leva a olhar a vida como um mar de potencialidades onde todos podemos cocriar a nossa realidade.
Saliento também o fato de sermos uma escola de linhagem reconhecida. Isto não significa que somos todos um conjunto de “fanáticos” a apostolar um conjunto de conceitos mortos só porque alguém, um dia, disse que era assim. De todo. Ser parte de uma linhagem significa simplesmente que, como aluna eu reconheço os milhares de alunos que ao longo do tempo quiseram, como eu, conhecer e saber mais; como formadora, reconheço e honro o fato que as palavras que digo não são só minhas, pertencem a toda a humanidade que a quer conhecer e a todos os mestres do passado, desde aqueles que não faziam mais do que olhar para o céu e queriam, porque queriam desvendá-lo, mesmo antes de inventarem as ferramentas que facilitam o processo. A isto se chama engenho e arte e, neste caso é a arte de cocriar saúde, prosperidade e bem-estar.
Estudar Feng Shui, nesta perspetiva que propomos, não copia o passado, nem as tradições mortas, nem os dogmas, nem as crenças, nem o misticismo mais, ou menos esclarecido: honra a vontade humana que sempre existiu e sempre há-de existir: procurar Ser e conhecer para evoluir!
O Feng Shui, ou, traduzindo, a arte do Vento e da Água, apenas ajuda a melhor reconhecer e pisar o chão, onde todos caminhamos, com mais consciência.
Tudo a fluir~~~ e boas práticas!