Há para mim qualquer coisa de profundamente belo e tranquilizante na energia do outono. É como se a natureza diminuísse a luz dos dias para dar mais espaço para a tranquilidade dos nossos sonhos.
A metafisica chinesa ensina-nos a olhar para os ciclos da natureza e em particular para as estações e a trazer para o nosso quotidiano os seus ensinamentos. Esta visão das coisas colocando todos os fenómenos que compõem a nossa experiência existencial organizada em sistemas conceptuais é comum a muitas culturas. O estudo do mundo classificando os fenómenos segundo quatro ou cinco caraterísticas (elementos) é transversal
a diferentes civilizações antigas. Temos o exemplo concreto da filosofia grega onde encontramos os cinco componentes clássicos, quatro de qualidade mais física que são Água, Terra, Ar, Fogo e o Éter. A caracterização destes elementos remonta a 450 AC. Na Índia, berço por excelência destas sistematizações, temos o “Pancha Mahabhuta” ou “Cinco Principais Elementos”, bhumi (Terra), jala (Água), tejas (Fogo), marut (Ar) e akash (Éter ou Vazio).
No pensamento oriental temos a designação clássica WU XING. “Wu” significa Cinco e Xing Cruzamento ou Caminho. Daí que usarmos a expressão 5 elementos não é a tradução mais correta. Na Escola Nacional de Feng Shui usamos o termo 5 transformações porque estamos a falar de uma filosofia que classifica o mundo onde vivemos como o mundo do relativo, por isso da impermanência onde a única constante é a mudança. De uma forma muito resumida, as cinco transformações exprimem a transformação da energia em cinco fases, cada qual com um ritmo diferente. Isto significa que estas transformações são apenas pontos de referência num ciclo contínuo de transformação de energia, na dança eterna dos dois grandes polos da relatividade que são o Yin e Yang. Desta forma, passamos a analisar o ciclo de mudança contínua no mundo do relativo, não apenas com duas fases de referência, ou bipolaridade, mas com cinco fases ou cinco ritmos.
Neste artigo vou concentrar-me (e esta é, realmente a palavra de ordem da estação do outono) e partilhar convosco um pouco mais sobre a transformação metal. Este é o elemento mais forte no outono e podemos observar o seu impacto no nosso movimento individual de forma a que possamos acompanhar o ritmo certo e superar a tristeza e a melancolia próprias deste momento e que, levadas ao extremo, desafiam o nosso equilíbrio de saúde.
A energia metal é, de todas as cincos energias, a mais condensada. Representa a energia da matéria, uma manifestação concentrada e, no limite, representa a capacidade de lidarmos com a matéria. Na verdade, esta é a fase na qual o ritmo da energia é mais lento, onde tudo recolhe ao seu interior.
A Macrobiótica ensina-nos que nós adoecemos porque temos saúde. Parece um paradoxo, mas não é. Na mudança das estações é natural o organismo passar por uma fase de reajuste, ou adaptação ao novo ritmo, daí ser natural uma constipação ou a necessidade de parar um pouco. Vimos de uma estação, o verão, onde o ritmo está todo no exterior, é um movimento todo ele de dentro para fora; na fase do outono estamos todos, como a natureza, a sentir a necessidade de desacelerar, de recolher. Como o homem moderno é muito eficaz e distante destas coisas mais “alternativas” entende, do alto da sua arrogância, que as estações é que têm de se adaptar ao seu ritmo cada vez mais desenfreado. A ideia generalizada da sociedade moderna e consumista é manter-nos o mais possível num registo de intensidade para servir o sistema. Depois vem um desequilíbrio global e o sistema tenta adaptar-se para não colapsar, mas, mais uma vez, fá-lo a partir de uma perspetiva de otimização de recursos, sem respeito pelo conceito essencial de perceber o ritmo de todas as coisas.
É nossa escolha querer permanecer nessa vibração de consciência ou trilhar o caminho da verdadeira saúde, que é o tornar-se num organismo com uma saudável adaptação à mudança. No fundo, para quem gosta de dançar, é aprender a escutar a música que está a tocar fora e dançar em conformidade. A música neste momento é mais tranquila e pede estrutura, então é escolha de cada um adaptar-se ou continuar a dançar o corridinho correndo, neste caso, em sério risco de tropeçar e cair num desequilíbrio mais demorado ou crónico.
Uma das formas de diagnosticar desafios de saúde em metal é que a pessoa parece que não tem energia por fora porque está toda concentrada lá dentro. Em casos extremos podem entrar em situações de quase total apatia.
O arquétipo associado á energia metal é o alquimista, o símbolo de mudança interior.
Enquanto que a energia de árvore é uma energia de ação, a energia fogo é uma energia em que a mudança é ativada por fatores exteriores, a energia solo é uma energia em que a mudança é ativada por fatores sociais, em metal a mudança é profundamente interior.
É um tipo de energia que representa religiosidade, representa um comportamento escrupuloso, mais refinado, metódico, analítico. Ou seja, em fenómenos onde haja muito metal tudo tem de estar no seu lugar.
Do ponto de vista orgânico, os órgãos associados são os pulmões, a víscera associada é o intestino grosso. Ambos este órgãos no corpo lidam com as trocas entre o exterior e o interior. Dum ponto de vista emocional a energia dos pulmões dá como qualidades positivas o positivismo e otimismo. A capacidade de se ver o mundo duma forma positiva e clara, no entanto calma. Dá um espírito prático e a capacidade de se lidar com a matéria. Traz disciplina. A pessoa que não consegue lidar com a matéria pode ter um desafio em metal mais ou menos sério. Dificuldades em fazer dinheiro ou fazê-lo render são desafios na transformação metal. Mas excessos em metal também trazem, do ponto de vista emocional, as suas consequências. Atitudes demasiado conservadoras, inflexíveis, poupança extrema em que a pessoa não vive só para não gastar, são disso claro exemplo. Na casa, extremos em metal dá uma habitação onde as pessoas para se sentarem têm de pedir licença ou nada pode sair do seu lugar ou, no extremo oposto, a desordem total ou a acumulação descontrolada. Estas manifestações externas normalmente são acompanhadas por desafios de obstipação (não soltar, não deixar ir) ou diarreias em que, literalmente a pessoa não consegue sustentar nada na sua vida por muito tempo.
Em metal o desejo é a ordem. O contexto é a organização. O caminho é a mestria. Os valores são a pureza, a retidão. Este talento discriminatório que o metal nos confere é muito útil para separar o que é essencial para nós e o que não é. A energia de árvore e de fogo não são uma energia de muito pormenor, são mais uma energia de ação. A transformação metal devido a ser bastante mais lenta dá muita importância ao pormenor. A questão existencial tem a ver com fronteiras e aprender a estabelecer e sustentar limites saudáveis. Também no nosso corpo a energia metal controla a pele, o maior órgão do corpo humano e aquele que é a nossa fronteira com o espaço exterior físico. Resumindo, é saber estabelecer o meu espaço e o espaço do outro.
Esta é também, por excelência a estação onde se instala a melancolia e a tristeza. Se as lágrimas teimarem afluir ao seu rosto nesta altura, não pense tanto no porquê nem se agarre ao que já passou; tiremos a lição do outono: as folhas das árvores não caem porque querem ou porque têm um motivo particular e muito importante; elas caem simplesmente porque chegou a hora de cair. Assim, nesta altura em que os nossos leitores leem este artigo lembrem-se que chegou a altura de procurar formas de acalmar o ritmo, manter apenas o que é essencial e criar rotinas estruturantes. É tempo de destralhar, na nossa casa interna e externa. É altura de soltar, deixar ir o que já não serve e dar espaço para que o novo se manifeste.
Partilho convosco alguns conselhos práticos para melhor fluir na energia desta estação: nos três meses de outono é aconselhado adormecer com o por do sol e acordar com o nascer do sol. Adormecer com o por do sol pode ser pouco prático, mas pelo menos reduzir ou acalmar o ritmo das atividades que se fazem antes de dormir. Assim como os dias ficam mais escuros o mesmo acontece com as nossas emoções. É importante manter a calma e afastar a melancolia e a tristeza extrema para que a transição para o inverno se faça de forma fluída. Se acumularmos muita tristeza no outono ela vai transformar-se em muco e o inverno vai ser mais desafiante em termos respiratórios. Evitar produtos lácteos nesta fase é uma boa opção, bem como reduzir ou aproveitar a limpeza da estação para parar de fumar. A energia do pulmão deve ser mantida limpa praticando exercícios respiratórios para melhorar o chi do pulmão. Dançar nesta fase pode também ser muito importante para ajudar a flexibilizar.
Acredito que, com a devida adaptação aos tempos modernos, é possível criarmos em nós um equilíbrio de atitudes e comportamentos que manifestem o rimo das estações de uma forma saudável. Podemos fazer o que temos de fazer, mas ao ritmo de cada estação. Cada uma traz a sua mensagem: com a primavera podemos relembrar a resiliência e a capacidade de nos reinventarmos; com o verão a sensualidade e a disponibilidade para o exterior, no outono a transformação e, no inverno a capacidade de sonhar e de recomeçar. E, tal como a natureza, assim nos reconstruimos num processo de mudança que não tem fim, mas que é um fim em si mesmo.
Para o ajudar em todos estes processos esteja atento a todas as nossas ofertas de formação, em particular o curso de Feng Shui onde pode aprender a adequar o seu espaço habitacional à energia de mudanças, dos fluxos astrais e do impacto das estações. E temos, agora também para partilhar consigo um novo curso de macrobiótica para estimular e ensinar formas praticas e saudáveis de harmonização da sua saúde.
Feliz transformação.